sábado, 11 de setembro de 2010

O que a Bruna pensa sobre: Propósitos.



Na foto, meu grupo de estágio com o paciente mais feliz do CAPS, o Hélio! :)



Antes de qualquer coisa: Não entendo de política, não sei diferença de PT, PSDB, PSCaralho. A única coisa que eu sei, é que à maioria dos políticos, deveria ter ao menos VERGONHA NA CARA.
Meus dias andam cheios, estou na reta final da faculdade, e minha vida está toda ocupada por isso. A maioria das minhas atividades é em torno da faculdade, e em consequencia disso, as minhas preocupações e frustrações estão relacionadas à vivencia que tenho todos os dias nos estágios supervisionados. Tem dias que eu sonho com trabalhos que preciso apresentar, ou com algum problema que eu ouvi de algum paciente. A cabeça fica tão cheia de idéias, à procura de tantas respostas, que eu tenho esquecido de mim, Bruna, a guria que não é apenas uma acadêmica do curso de enfermagem. Na verdade, eu não me sinto mal por isso. Eu amo TANTO o que eu faço, eu amo TANTO saber mais, que isso não me deixa estafada, como eu acreditei que um dia poderia acontecer. Uma professora me disse que era normal sentir isso, que é 'mal de academico' querer mudar o mundo com o que aprendeu. EU, BRUNA, não acho MAL nenhum. Mas infelizmente, a realidade faz com que as pessoas se sintam assim, de mãos atadas quando se deparam com alguns problemas. Mas enfim... O que me traz aqui, não é apenas um desabafo no qual eu digo que 'to toda fudida' de coisas pra fazer na facul, mas um post que vem tentar passar em palavras, que poderá acontecer com você em um ambiente de trabalho.
Estagiei no CAPS estadual (Centro de Atenção Psicossocial), e confesso, que se eu me formar e puder trabalhar lá, eu seria muito feliz. Ajudar aquelas pessoas fez com que eu me sentisse tão bem, sem falar no quanto eles surpreendem agente, nos fazem rir e ver que reclamar da vida que temos é um grande erro que agente comete.
Lá, são tratados pacientes com transtornos mentais, como depressão, esquizofrenia, transtorno bipolar, demencia, retardo mental... E o trabalho que é feito lá é muito bom, pois todos os pacientes aceitam a doença, e aceitam tomar a medicação, são muito bem controlados e levam a vida o mais normal possível. Pessoas de todo tipo, de toda classe social que tem transtornos mentais, podem fazer tratamento lá, e é isso que agente vivencia, pessoas de todo tipo, todas as idades, uns que até nem parecem ter algum tipo de transtorno.
Bom... Tem um paciente lá, que em especial, é um dos que eu mais me apeguei. Não tem como não se apegar a uma pessoa que necessita da sua ajuda, e que você vê, que gosta muito de você. O paciente em questão, é um senhor chamado Hélio, ele deve ter seus 55 anos, e tem retardo mental grave. Essa doença como já diz no nome, retarda a capacidade de desenvolvimento mental da pessoa, sendo que, ele tem mente de uma criança de 4 à 6 anos de idade. Ele fala, conversa com disfasia (dificuldade em falar, ele fala 'enrolado' diríamos assim), brinca, corre, pula... Ele é muito carinhoso, MEU DEUS, ele não tem maldade em NADA! NADA, ABSOLUTAMENTE NADA! Respeita muito os profissionais... Quando ele está bem hiperativo como uma criança mesmo, e agente chama a atenção dele, ele para, te ouve... Pede desculpas... Nossa, não tem como não gostar dele... Ele é educado, vai limpinho pro CAPS, todo arrumadinho. Ele é o tipo de paciente que necessita de ajuda em quase todas as atividades de lá, pois não sabe ler, nem escrever, e nem tem coordenação motora para escrever seu nome, portanto é necessário que agente o ajude muito. No dia que fui para o ultimo dia de estágio lá, deu até vontade de chorar, porque ele pediu pra que agente voltasse lá para visitál-lo. Aliás, todos os pacientes pediram. Isso é muito gratificante! Teve uma das pacientes que disse que a maioria dos profissionais tinham medo deles, por isso nem se aproximavam, e disse assim "eu sei que somos loucos, mas é por isso que tomamos remédio, para não correr risco de entramos em crise, e agredir alguém... isso dói na gente..." Isso me cortou o coração em mil pedaços.
Bom, voltando ao assunto... A maioria dos pacientes de lá é carente. Muitos necessitam de ajuda de cesta básica para se alimentar, etc. Acredito que o Hélio tenha uma família que cuida bem dele, pois ele sempre está limpo, arrumado, diferente de muitos outros pacientes que infelizmente não tem quem os cuide, porém ele também é carente, e também necessita de ajuda de cesta básica. Esse caso mostra: POBREZA não é sinal de FALTA DE HIGIENE!
Bom, todos os dias, ele chegava brincando com agente, sorrindo. Não tinha um dia que nós o encontrassemos triste. Minhas colegas de sala, que são de outro grupo que agora estão no CAPS, chegaram um dia e encontraram ele muito triste, abatido... E quando elas foram perguntar a ele o que tinha acontecido, ele começou a chorar... E disse que estava muito triste, pois ele estava com muita fome, e viu uma marmita em cima da mesa, e comeu. Só que a marmita era de uma funcionária de lá, e ela o chingou muito por isso, e ele ficou muuuuuuuito triste, chorava feito criança, tadinho. Quando eu ouví isso, a lágrima escorreu, meu coração partiu em um milhão e meio de pedaços, porque eu só IMAGINO o que é passar fome.
Gente agora parem e pensem. Imaginem uma CRIANÇA com fome... Uma criança que ainda não tem noção de muita coisa. Se ela está com fome, e ve comida em cima de uma mesa, o que ela faz? ELA COME, É CLARO QUE ELA COME! O que aconteceu com ele foi ISSO. Ele tem mente de CRIANÇA MEU DEUS! Eu fiquei com tanta raiva, com ódio. INDIGNADA. Eu juro, que se eu tivesse lá, eu pelo menos tentaria CONVERSAR com essa mulher que pelo jeito, NÃO TEM CORAÇÃO, NÃO TEM SENTIMENTO.
Aí eu ví o quanto eu sou impotente. E mesmo que eu pudesse fazer algo pra ajudar aquele paciente, nem que fosse dar uma cesta básica que fosse, não ia poder ser pra sempre. Não tenho dinheiro pra ajuda-lo pra sempre...
Aí eu ví, que não adianta de nada eu vender meu voto. Nem que se eu gritasse para aquele bando de políticos FILHOS DA PUTA eu não iria ser ouvida. Porque só eles podem fazer alguma coisa por esses 'Hélios' em todo o Brasil. Chorei, claro. Mas pedí a Deus pra iluminar essas pessoas, essas famílias, e que pelo menos o arroz, o feijão e um pedaço de carne, não falte mais em suas mesas...

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